DOSES DE AMOR… USE SEM MODERAÇÃO

Photobucket

RETORNANDO…

..✫¸.•°*”˜˜”*°•.✫
☻/ღ˚
/▌*˛˚
/ \ ˚. Retornando…

A vida precisa de pausas, eu sei, mas já cansei das muitas paradas…

Retornar para viver, ser elo no tempo e do tempo!

As impossibilidades ou nos bloqueiam para sempre, ou são momentos para dar uma sacudida e seguir novos rumos, se reinventar outra vez!

Confesso que perdi muito tempo! Estou dando um basta e deixando rolar o que vier, sem medos, nem culpa. Apenas viver cada dia de cada vez!

Passar por uma cirurgia foi necessário para ter esperança! Recomeçar a viver!…

Mais que tudo preciso me amar mais e acreditar que tudo é possível e que sou merecedora dessa benção da renovação da vida!

E não posso deixar minha felicidade nas mãos de ninguém! Eu traço meu caminho. Quem estiver a meu lado será o acréscimo para essa felicidade, mas não mais o motivo… Viver é aprender! Conceitos mudados… Resultados alterados… O saldo disso? Só o tempo dirá!

© Helô Spitali

Eterna Apaixonada

08 FEVEREIRO – Dia da Internet Segura 2011

 

Dia da Internet Segura 2011

 


Veja também AQUI ,

no blog Datas a Comemorar.

Photobucket

♥☆♥ Feliz Ano Novo♥☆♥

Photobucket

♥☆♥ Feliz Natal ♥☆♥

Photobucket

HOJE É DIA DE ADÉLIA PRADO!

Photobucket

Adélia Luzia Prado Freitas
Divinópolis, MG. – 13 de Dezembro de 1935

Filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.
No ano de 1950 falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a autora escreva seus primeiros versos. Nessa época conclui o curso ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração, naquela cidade.
No ano seguinte inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casasanta, que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho em 1955.
Em 1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas, funcionário do Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos: Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).
Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis.
Em 1972 morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa ocasião envia carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade.
“Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa.Continuava a escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É isto, é a minha fala.”
Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhe pareciam “fenomenais”. O poeta envia os originais ao editor daquele que viria a ser Bagagem. No dia 09 de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da escritora.
“Bagagem, meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. Descobri ainda que a experiência poética é sempre religiosa, quer nasça do impacto da leitura de um texto sagrado, de um olhar amoroso sobre você, ou de observar formigas trabalhando.”
O livro é lançado no Rio, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Raquel Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitscheck, Affonso Romano de Sant’Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho, entre outros.
O ano de 1978 marca o lançamento de O coração disparado que é agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro.
Estréia em prosa no ano seguinte, com Soltem os cachorros. Com o sucesso de sua carreira de escritora vê-se obrigada a abandonar o magistério, após 24 anos de trabalho. Nesse período ensinou no Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, Fundação Geraldo Corrêa – Hospital São João de Deus, Escola Estadual são Vicente e Escola Estadual Matias Cyprien, lecionando Educação Religiosa, Moral e Cívica, Filosofia da Educação, Relações Humanas e Introdução à Filosofia. Sua peça, O Clarão, um auto de natal escrito em parceria com Lázaro Barreto, é encenada em Divinópolis.
“O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta.”
Em 1980, dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No ano seguinte, ainda sob sua direção, o grupo encenaria A Invasão, de Dias Gomes. Publica Cacos para um vitral. Lucy Ann Carter apresenta, no Departament of Comparative Literature, da Princeton University, o primeiro de uma série de estudos universitários sobre a obra de Adélia Prado.
Em 1981 lança Terra de Santa Cruz.
De 1983 a 1988 exerce as funções de Chefe da Divisão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e da Cultura de Divinópolis, a convite do prefeito Aristides Salgado dos Santos.
Os componentes da banda é publicado em 1984.
Participa, em 1985, em Portugal, de um programa de intercâmbio cultural entre autores brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba, do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de Nossa América.
Fernanda Montenegro estréia, no Teatro Delfim – Rio de Janeiro, em 1987, o espetáculo Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de livros da autora. A montagem, sob a direção de Naum Alves de Souza, fez grande sucesso, tendo sido apresentada em diversos estados brasileiros e, também, nos EUA, Itália e Portugal.
Apresenta-se, em 1988, em Nova York, na Semana Brasileira de Poesia, evento promovido pelo Comitê Internacional pela Poesia. É publicado A faca no peito.
Participa, em Berlim, Alemanha, do Línea Colorada, um encontro entre escritores latino-americanos e alemães.
Em 1991 é publicada sua Poesia Reunida.
Volta, em 1993, à Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Divinópolis, integrando a equipe de orientação pedagógica na gestão da secretária Teresinha Costa Rabelo.
Em 1994, após anos de silêncio poético, sem nenhuma palavra, nenhum verso, ressurge Adélia Prado com o livro O homem da mão seca. Conta a autora que o livro foi iniciado em 1987, mas, depois de concluir o primeiro capítulo, foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia literariamente por longo tempo. Disse que vê “a aridez como uma experiência necessária” e que “essa temporada no deserto” lhe fez bem. Nesse período, segundo afirmou, foi levada a procurar ajuda de um psiquiatra.
“O que se passou? Uma desolação, você quer, mas não pode. Contudo, a poesia é maior que a poeta, e quando ela vem, se você não a recebe, este segundo inferno é maior que o primeiro, o da aridez.”
Deus é personagem principal em sua obra. Ele está em tudo. Não apenas Ele, mas a fé católica, a reza, a lida cristã.
“Tenho confissão de fé católica. Minha experiência de fé carrega e inclui esta marca. Qual a importância da religião? Dá sentido à minha vida, costura minha experiência, me dá horizonte. Acredito que personagens são álter egos, está neles a digital do autor. Mas, enquanto literatura, devem ser todos melhores que o criador para que o livro se justifique a ponto de ser lido pelo seu autor como um livro de outro. Autobiografias das boas são excelentes ficções.”
Estréia, em 1996, no Teatro SESI Minas, em Belo Horizonte, a peça Duas horas da tarde no Brasil, texto adaptado da obra da autora por Kalluh Araújo e pela filha de Adélia, Ana Beatriz Prado.
São lançados Manuscritos de Felipa e Oráculos de maio. Participa, em maio, da série “O escritor por ele mesmo”, no ISM – São Paulo. Em Belo Horizonte é apresentado, sob a direção de Rui Moreira, O sempre amor, espetáculo de dança de Teresa Ricco baseado em poemas da escritora.
Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.
“Alguns personagens de poemas são vazados de pessoas da minha cidade, mas espero estejam transvazados no poema, nimbados de realidade. É pretensioso? Mas a poesia não é a revelação do real? Eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele. Não sei de alguém que tenha mais. O cotidiano em Divinópolis é igual ao de Hong-Kong, só que vivido em português.”
Em 2000, estréia o monólogo Dona da casa, em São Paulo, adaptação de José Rubens Siqueira para Manuscritos de Felipa. A direção é de Georgette Fadel e Élida Marques interpreta Felipa.
Em 2001, apresenta no SESI Rio de Janeiro e em outras cidades, sarau onde declama poesias de seu livro Oráculos de Maio acompanhada por um quarteto de cordas.
OBRAS:
Individuais
– Bagagem, Imago – 1976
– O coração disparado, Nova Fronteira – 1978
– Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira – 1981
– O pelicano, Rio de Janeiro – 1987
– A faca no peito, Rocco – 1988
– Oráculos de maio, Siciliano – 1999

PROSA
– Solte os cachorros, Nova Fronteira – 11979
– Cacos para um vitral, Nova Fronteira — 1980
– Os componentes da banda, Nova Fronteira – 1984
– O homem da mão seca, Siciliano – 1994
– Manuscritos de Felipa, Siciliano – 19999
– Filandras, Record – 2001
ANTOLOGIA
– Mulheres & Mulheres, Nova Fronteira – 1978
– Palavra de Mulher, Fontana – 1979
– Contos Mineiros, Ática – 1984
– Poesia Reunida, Siciliano – 1991 (Bagagem, O Coração Disparado, Terra
de Santa Cruz, O pelicano e A faca no peito.)
– Antologia da poesia brasileira, Embaixada do Brasil em Pequim – 1994.
– Prosa Reunida, Siciliano – 1999
BALÉ
– A Imagem Refletida – Balé do Teatro Castro Alves – Salvador – Bahia – Direção Artística de Antônio Carlos Cardoso. Poema escrito especialmente para a composição homônima de Gil Jardim.
Vem de antes do sol
A luz que em tua pupila me desenha.
Aceito amar-me assim
Refletida no olhar com que me vês.
Ó ventura beijar-te,
espelho que premido não estilhaça
e mais brilha porque chora
e choro de amor radia.
(Divinópolis, 1998).
Em parceria:
– Assis Brasil (org.). A poesia mineira no século XX. Imago, 1998.
– Hortas, Maria de Lurdes (org.). Palavra de mulher, Fontoura, 1989.
– “Sem enfeite nenhum”. In Prado Adélia et ali. Contos mineiros. Ática, 1984.
Traduções:
Para o inglês:
– Adélia Prado: thirteen poems. Tradução de Ellen Watson. Suplemento
do The American Poetry Review, jan/fev 1984.
– The headlong heart (Poesias de Terra de Santa Cruz, O coração
disparado e Bagagem). Tradução de Ellen Watson, New York, 1988,
Livingston University Press.
– The alphabet in the park (O alfabeto no parque). Tradução de Ellen
Watson, Middletown, Wesleyan University Press, 1990.
Para o espanhol:
– A lapinha de Jesus (com Lázaro Barretoo) – Vozes – 1969
– El corazón disparado (O coração disparado). Tradução de Cláudia
Schwartez e Fernando Roy, Buenos Aires, Leviantan, 1994.
– Bagagem. Tradução de José Francisco Navarro Huamán. México, Universidade Ibero-Americana, a sair.

Viva Adélia!

 

 

HOJE É DIA DE CLARICE LISPECTOR!

Photobucket

Clarice Lispector, nascida Haia Lispector (Chechelnyk – Ucrânia, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 09 de dezembro de 1977)

Na obra de Clarice Lispector, a caracterização das personagens e as ações são elementos secundários. Importa-lhe captar a vivência interior das personagens e a complexidade de seus aspectos psicológicos. Daí resulta uma narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer as fronteiras entre narrador e personagens. Essa centralização na consciência contribui para a digressão, a fragmentação dos episódios e o desencadeamento do “fluxo de consciência”, isto é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais parece manifestar-se diretamente o inconsciente, do que resulta certa perda da seqüência lógica.

Na trilha filosófica do existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante de sua liberdade para escolher o curso que deseja dar à sua vida. Essa escolha é necessária, já que sua existência não está predeterminada, e a maneira de cada indivíduo ser e estar no mundo e entendê-lo resulta de sua própria opção. Assim, ele tem a liberdade de optar por uma vida autêntica e questionadora, mas isso provavelmente o levará a enxergar um mundo absurdo em que nada faz sentido e, conseqüentemente, a afundar-se num abismo de perplexidades. Por outro lado, pode refugiar-se na banalidade do cotidiano e nos ;interesses imediatos, limitados e efêmeros, os quais certamente nunca o deixarão plenamente satisfeito.

As narrativas de Clarice Lispector quase sempre focalizam a epifania, um momento de revelação, um momento especial em que a personagem defronta-se subitamente com a verdade.

Cronologia

1920. Nasce Clarice Lispector em Tchechelnik, uma pequena aldeia na Ucrânia (Rússia), a 10 de dezembro de 1920. É filha de Pedro e Marieta Lispector, que já tinham duas filhas: Elisa e Tânia. A família de migrantes estava já em viagem, a caminho das Américas. Da Rússia passam, provavelmente, pela Romênia e pela Hungria, até a Alemanha. Em Hamburgo tomam o navio que os levaria ao Brasil.

1921. Chegam à Maceió (Estado de Alagoas) onde permanecem por dois anos e meio.

1924. A família muda-se para Recife (Estado de Pernambuco). O pai é pequeno comerciante. A doença da mãe, que sofre de paralisia progressiva, agrava-se.

1928. Com sete anos aprende a ler.

1930. Morre a mãe, Marieta Lispector. Com nove anos, assiste a uma peça de teatro no Teatro Santa Isabel, no Recife e, inspirada, escreve “Pobre menina rica”, peça em três atos cujos originais acaba perdendo. Nessa época, envia contos para o Diário de Pernambuco, mas nenhum deles é publicado.

1932. Clarice que estudara no Grupo Escolar João Barbalho e no Colégio Hebreu-Idiche-Brasileiro, ingressa no Ginásio Pernambucano, após exame de admissão prestado em final do ano anterior. Lê muitos livros, entre eles Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

1934. A família, composta pelo pai e três filhas, muda-se para o Rio de Janeiro. A adolescente Clarice cursava, nessa época, a terceira série do curso fundamental (ou ginasial).

1936. Final do ano completa o Curso Fundamental, no Colégio Sílvio Leite, que funcionava na Rua Mariz e Barros, na Tijuca.

1938. Cursa o segundo ano do Curso Complementar, já no Colégio Andrews.

1939. Inicia o Curso de Direito na Universidade do Brasil.

1940. Morre o pai. Publica o seu primeiro conto na imprensa, intitulado “Triunfo”, na revista Pan, no dia 25 de maio. Inicia sua carreira de jornalista, trabalhando na Agência Nacional e na empresa A Noite. Data desse período sua grande amizade por Lúcio Cardoso. Conhece também, entre outros jornalistas, Antonio Callado e Francisco de Assis Barbosa.

1943. Casa-se a 23 de janeiro, com Maury Gugel Valente, seu colega na Faculdade de Direito. Ambos formam-se na Faculdade no final deste ano, quando Clarice lança seu primeiro romance: Perto do Coração Selvagem.

1944. Muda-se para Belém (Estado do Pará) com seu marido, que segue a carreira diplomática, onde permanecem por seis meses. Em seguida, viaja para Nápoles (Itália), onde o marido assume a função de vice-cônsul do Brasil. De Belém e de Nápoles Clarice recebe as críticas que são feitas ao seu primeiro romance Perto do Coração Selvagem, que, aliás, ganha o Prêmio Graça Aranha. E mantém correspondência com seus parentes e amigos que ficaram no Brasil.

1946. Muda-se para Berna (Suíça). Publica seu segundo romance, O Lustre. E escreve o terceiro romance.

1949. Publica A Cidade Sitiada, seu terceiro romance.

1950. A família permanece algum tempo no Rio de Janeiro, antes de embarcar para nova estada no exterior, agora na Inglaterra. E escreve contos, como “Amor”, “Começos de uma fortuna”, “Uma galinha” e que, com outros, anteriormente escritos, serão publicados no seu primeiro volume de contos, dois anos mais tarde. A família muda-se para Torquay, na Inglaterra, onde permanece por seis meses.

1952. Passa algum tempo no Brasil, antes de partir novamente para o exterior. Colabora no “Comício”, dirigido entre outros, por Rubem Braga, assinando página feminina com o título “Entre mulheres”, que escreve com pseudônimo de Tereza Quadros, de maio a setembro deste ano. É publicado seu primeiro livro de contos, Alguns Contos. No dia 3 de setembro embarca para os Estados Unidos, onde permanece até o final da década.

1953. Nasce o seu segundo filho. Paulo, em Washington. Continua a escrever, com dificuldades, A Maçã no Escuro. E escreve outros contos.

1954. Clarice vem ao Rio de Janeiro, em viagem rápida. É publicado seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, em francês.

1956. Finalmente termina seu romance A Maçã no Escuro, que já iniciara há pelo menos três anos atrás, quando tinha por título ainda “A Vela no Pulso”. Escreve mais contos como “O búfalo”. E os amigos do Brasil, como Fernando Sabino e Rubem Braga, tentam publicar tanto o seu novo romance como o volume de contos.

1959. A revista Senhor, dirigida entre outros, por Paulo Francis, publica contos de Clarice Lispector, divulgando assim, a escritora para um público maior. Separa-se do marido, depois de um casamento que durou 15 anos, e volta para o Brasil, com os dois filhos.Colabora, até 1961, em página feminina do “Correio da Manhã”, em coluna intitulada “Correio feminino- Feira de utilidades”, sob o pseudônimo de Helen Palmer.

1960. Publica Laços de família, pela Livraria Francisco Alves. Colabora no “Diário da Noite”, como “ghost writter” da atriz Ilka Soares, em sua coluna intitulada ”Só para mulheres”, até março do ano seguinte.

1961. Publica A Maçã no Escuro, para o qual tomara notas ainda na Inglaterra e o qual começara a escrever nos Estados Unidos e que já havia terminado a cinco anos.

1962. Viaja para a Polônia, com os filhos, em visita ao ex-marido, que, na época, ainda era embaixador. Recebe o Prêmio Carmen Dolores, em São Paulo, pelo seu quarto romance.

1964. Publica a novela A Paixão Segundo G.H., um dos seus textos mais densos. É publicado também o volume A Legião Estrangeira, que reúne, numa primeira parte, contos maiores e, numa segunda parte, intitulada “Fundo de gaveta”, fragmentos de tamanho variado, incluindo aí alguns sob a forma de crônicas.

1967. Na madrugada de 14 de setembro, Clarice sofre acidente que quase lhe causa a morte: trata-se de um incêndio que lhe deixa marcas na mão direita e que exige algumas cirurgias. Publica O Mistério do Coelho Pensante, história que contara em inglês para os filhos Paulo, quando ainda estava nos Estados Unidos. Escreve crônicas no “Jornal do Brasil”, aos sábados, em colaboração que irá prolongar até 1973.

1968. Publica na revista Manchete, em seção intitulada “Diálogos possíveis”, entrevistas que faz com personalidades sobretudo do mundo político e artístico. Participa de manifestação política contra a ditadura militar, em caminhada pelas ruas do Rio de Janeiro, ao lado de artistas e intelectuais brasileiros. Ganha o Prêmio Calunga, no Paraná, com o livro de literatura infantil publicado no ano anterior.

1969. Publica A Mulher que Matou os Peixes, segundo livro de literatura infantil e o romance Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, com o qual ganhara o Prêmio Golfinho de Ouro.

1971. Publica Felicidade Clandestina, volume que traz os contos de memória de infância do Recife, além de outros.

1973. Publica Água Viva, em texto reduzido de versões anteriores: uma primeira tinha por título “Atrás do pensamento: Monólogo com a Vida”; e outra, “Objeto Gritante”. Neste ano sai publicada também uma antologia de contos, com seleção que não inclui nenhum conto inédito, no volume “A Imitação da Rosa”.

1974. Publica dois volumes de contos: um, por encomenda, sobre o tema do sexo, intitulado A Via Crucis do Corpo; outro Onde estivestes de noite. Neste ano publica ainda seu terceiro livro de literatura infantil: A vida Íntima de Laura.

1975. Participa do congresso de Bruxaria, na Colômbia, ocasião em que lê o seu conto “O Ovo e a galinha”. Publica Visão do esplendor ou, segundo a autora “Impressões leves”. E De Corpo Inteiro, com algumas das entrevistas publicadas anteriormente na imprensa carioca.

1976. Ganha o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pelo conjunto da obra.

1977. Em fevereiro concede entrevista para a TV2-Cultura, em São Paulo em programa que pede para ir ao ar apenas após a sua morte. Em início de novembro é hospitalizada, por causa da doença: câncer no útero, que se generalizou. Publica “A Hora da Estrela”, reunindo, com dificuldade, os fragmentos que compõem o livro. Falece no dia 9 de dezembro, às vésperas de completar 57 anos. Foi enterrada no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

1978. É publicado Um sopro de vida, que ela considera “pulsações”, fragmentos que foram reunidos por sua amiga Olga Borelli. Também sai publicado seu quarto livro de literatura infantil. Quase de verdade. A segunda parte do volume A Legião Estrangeira é publicado em volume autônomo, com o título Para não esquecer.

1979. É publicado o volume A Bela e a Fera, com alguns dos seus primeiros e últimos contos ainda inéditos.

1984. É publicado o volume “A Descoberta do mundo”, que reúne parte das crônicas anteriormente publicadas no JB.

1987. É publicado o livro “Como nasceram as estrelas”. 12 Lendas brasileiras, com as histórias que serviram de ilustração para o calendário encomendado a Clarice pela fábrica de brinquedos Estrela.

A vida

Clarice se mudou para o Brasil quando ainda era bebê. Viveu a maior parte da vida no Recife e dominou como poucos a nossa linguagem. Sua última obra, A Hora da Estrela, foi lançada em outubro daquele ano quando já estava enferma. Ela veio de longe para recriar a literatura feminina – embora dificilmente feminista – no país. Outras houve antes, mas nenhuma atingiu em suas obras a dimensão literária e artística de Clarice.
Com seu estilo novo, de evidente deslumbramento pela pura sonoridade das palavras brasileiras, ela influenciou praticamente todas as escritoras que vieram depois. Sua narrativa, na qual entrelaçava harmonicamente conceitos metafísicos, seres e fatos do mais corriqueiro cotidiano, fez escola.
A escritora, no entanto, vivia de uma maneira simples, quase pobre, ocupando-se dos afazeres domésticos e vendo televisão – novelas – como qualquer outra pessoa da época. No ano anterior ao da sua morte, quando conquistou o Prêmio Brasília pelo conjunto de obras publicadas, declarou comovida: “Foi uma dádiva de Deus, através dos seres humanos. Eu bem estava precisando desse dinheiro. Sinto-me um tanto humilde, por não merecer tanto. Disseram-me que quando nos conferem um prêmio é porque nos consideram aposentados. Mas eu não me aposentarei. Espero morrer escrevendo”.
Clarice começou a escrever contos no início da adolescência. Seu primeiro livro Perto do Coração Selvagem foi publicado em 1944, quando tinha apenas 19 anos. Antes de lançá-lo, já escrevia sua segunda obra, O Lustre, que saiu em 1946. Formou-se em direito, mas nunca investiu na carreira de advogada. Dedicou-se mesmo ao jornalismo, tendo trabalhado inclusive no Jornal do Brasil, na década de 1970. Influenciada pela literatura de Herman Hesse, Clarice buscava dar um tom dramático em suas histórias e, muitas vezes, trágico. Era uma eterna solitária, uma eterna insatisfeita, em busca a todo custo da perfeição.
“Eu tentava traduzir uma busca interior, atrás de uma coisa que eu não sabia bem o que era”, disse ela após publicar Cidade Sitiada, em 1949.
Seus livros mais vendidos foram A Maçã no Escuro e Laços de Família. Sobre o primeiro, ela declarou certa vez que a primeira versão tinha dado 500 laudas. Copiou o livro onze vezes e, a cada vez que fazia uma cópia, entendia mais de sua obra, pois geralmente não compreendia muito, a princípio, o que queria dizer.
No dia nove de dezembro de 1977 morreu, aos 56 anos de idade, às vésperas de seu aniversário, Clarice Lispector, uma das maiores cronistas e escritoras da literatura brasileira. Clarice estava hospitalizada por mais de um mês para tratar de um câncer que, no fim da sua vida, atacou vários órgãos de seu corpo.

As faces duma personalidade

“Nasci para escrever. Cada livro meu é uma estréia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que chamo de viver e escrever. Eu acho que, quando não escrevo, estou morta.”

A década de 60 principia com a publicação do livro de contos Laços de Família. Seguir-se-iam as publicações de A Maçã no Escuro, em 61, livro que recebeu o Prêmio Carmen Dolores Barbosa, A Legião Estrangeira, em 62, e A Paixão Segundo G.H. , em 64.
“Eu…é curioso, porque eu estava na pior das situações tanto sentimental como de família, tudo complicado, e escrevi A Paixão…, que não tem nada a ver com isso.”

Uma escultora de classe alta, que mora num apartamento de cobertura num edifício do Rio, resolve arrumar o quarto de empregada, cômodo que supõe, seja o mais sujo da casa, o que não é verdade. O quarto é claro e límpido. Entre várias experiências desmistificatórias, a crucial: abre a porta do guarda-roupa e se vê diante de uma barata.
“É, fugiu do controle quando… eu de repente percebi que a mulher de G.H. ia ter que comer o interior da barata. Eu estremeci. De susto!”
Embora afirme que o livro não tem nada de experiência pessoal, admite que a obra fugira do seu controle…
“Esse esforço que farei agora por deixar subir à tona um sentido, qualquer que seja, esse esforço seria facilitado se eu fingisse escrever para alguém. Mas receio começar a compor para poder ser entendida pelo alguém imaginário, receio começar a “fazer” um sentido, com a mesma mansa loucura que até ontem era o meu modo sadio de caber no sistema. Terei de ter a coragem de usar um coração desprotegido e de ir falando para o nada e para o ninguém? – assim como uma criança pensa para o nada – e correr o risco de ser esmagada pelo acaso.”
Paixão Segundo G.H.
“É um romance com uma personagem de nome desconhecido, indiciado apenas pelas primeiras letras, e que, como freqüentemente acontece nos textos de Clarice, representa a questão do nomear e do percurso que se experimenta nessa procura do nome ou da própria identidade. Esse percurso doloroso e prazeroso, espécie de via sacra que se chama paixão, estende-se até um ponto máximo, na união temporária entre o eu e o outro. Apenas G.H., que conta a alguém o que lhe aconteceu no dia anterior, criando um interlocutor imaginário como recurso que lhe dê coragem para fazer o relato.”
Nádia Gotlib

“É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?”
Entre 65 e 67, Clarice dedica-se à educação dos filhos e com a saúde de Pedro, que apresenta um quadro de esquizofrenia, exigindo cuidados especiais. Apesar de traduzida para diversos idiomas e da republicação de diversos livros, a situação econômica de Clarice é muito difícil. Em setembro de 67, acontece o acidente que deixa marcas no corpo e na alma da escritora – um incêndio no quarto que ela tenta apagar com as mãos. Fica gravemente ferida, passa 3 dias entre a vida e a morte. Três dias definidos por ela como “estar no inferno.”
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever.”
“A galinha olha o horizonte como se da linha do horizonte é que tivesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender, se ela é a contradição de um ovo?…E me faço rir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio e não um fim tem me dado a mais maliciosa das liberdades. Não sou boba e aproveito, inclusive. Faço um mal aos outros que… francamente!” O Ovo e a Galinha
Em 69, publica o romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Em 71, a coletânea de contos Felicidade Clandestina, volume que inclui O Ovo e a Galinha, escrito sob o impacto da morte do bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de Janeiro.
Os últimos anos de vida são de intensa produção: A Imitação da Rosa (contos) e Água Viva (ficção), em 1973; A Via Crucis do Corpo (contos) e Onde Estivestes de Noite, também contos, em 74. Visão do Esplendor (crônicas), em 75. Nesse ano, é convidada a participar, em Bogotá, do Congresso Mundial de Bruxaria. Sua participação limita-se à leitura do conto O Ovo e a Galinha. No ano seguinte, Clarice Lispector recebe o 1° prêmio do X Concurso Literário Nacional, pelo conjunto da obra.
“Ninguém me entendia. Agora me entendem. A que você atribui isso? Eu não sei… que eu saiba não fiz concessões.”
Em 77, concede entrevista à TV Cultura, com o compromisso de só ser transmitida após a sua morte. Ela antecipa a publicação de um novo livro, que viria a se chamar A Hora da Estrela, adaptado para o cinema nos anos 80 por Suzana Amaral.
“É a história de uma moça tão pobre que só comia cachorro- quente. Mas a história não é isso. A história é de uma inocência pisada, de uma miséria anônima. Eu morei no Nordeste… eu me criei no Nordeste e depois no Rio de Janeiro… tem uma feira dos nordestinos no campo de São Cristóvão, e uma vez eu fui lá. E peguei o ar meio perdido do nordestino no Rio de Janeiro. Daí começou a nascer a idéia. Depois eu fui a uma cartomante e imaginei as coisas boas que iam me acontecer. E imaginei, quando tomei o táxi de volta, que seria muito engraçado se um táxi me atropelasse e eu morresse, depois de ter ouvido todas essas coisas boas. Então daí foi nascendo também a trama da história.”
“Me chamam de hermética. Como é que se pode ser popular, sendo hermética? Eu me compreendo. De modo que eu não sou hermética para mim”
Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário. Queria ser enterrada no Cemitério São João Batista, mas era judia. O enterro aconteceu no Cemitério Israelita do Caju.
Postumamente, foram publicados Um Sopro de Vida, Para Não Esquecer e A Bela e a Fera.
“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro…”
“Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi – na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro”. Paixão Segundo G.H.
“Uma personalidade lisérgica. Para ela se abriam as portas da percepção, de modo a transformar-se o mundo num espetáculo de vertiginosa complexidade, profundidade e vigor. Clarice via demais, e o sofrimento lhe brotava da crispação das suas retinas expostas às agulhas de luz que saltam do coração selvagem da vida… Vidente e visionária, Clarice era fustigada, crucificada pelo excesso de estímulos, conscientes e inconscientes, que tinha de domar.” Hélio Pelegrino.
“Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude… Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que eu não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.”

Obras da autora:

Romances:

Perto do Coração Selvagem (1943);

O Lustre (1946)

A Cidade Sitiada (1949)

A Maçã no Escuro (1961)

A Paixão segundo G.H. (1964)

Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969)

Água Viva (1973)

Um Sopro de Vida – Pulsações (1978)

Novela:

A hora da estrela (1977)

Contos:

Alguns contos (1952)

Laços de família (1960)

A legião estrangeira (1964)

Felicidade clandestina (1971)

A imitação da rosa (1973)

A via crucis do corpo (1974)

Onde estivestes de noite? (1974)

A bela e a fera (1979)

Correspondência:

Cartas perto do coração (2001) – Organização de Fernando Sabino

Correspondência – Clarice Lispector (2002) – Organização de Teresa Cristina M. Ferreira

Crônicas:

Visão do esplendor – Impressões leves (1975)

Para não esquecer (1978) – contos inicialmente publicados em Laços de família.

A descoberta do mundo (1984)

Entrevistas:

De corpo inteiro (1975)

Literatura infantil:

O mistério do coelho pensante (1967) – Escrito em inglês e traduzido por Clarice

A mulher que matou os peixes (1968)

A vida íntima de Laura (1974)

Quase de verdade (1978)

Como nasceram as estrelas (1987)

Antologias:

Seleta de Clarice Lispector (1975) – Organização de Renato Cordeiro Gomes

Clarice Lispector (1981) – Organização de Benjamin Abdala Jr. e Samira Y. Campedelli

O primeiro beijo & outros contos, de Clarice Lispector (1991)

Os melhores contos de Clarice Lispector (2001) – Organização de Walnice N. Galvão

Aprendendo a viver (2004)

Livros publicados no exterior:

Clarice Lispector tem seus livros publicados em diversos países do mundo: Alemanha, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, França, Israel, Holanda, Inglaterra, Itália, Noruega, Polônia, Rússia, Suécia, República Tcheca e Turquia. Citamos alguns, a título de exemplo:

Die Passion nach G.H. (A paixão segundo G. H.) (1995), tradução de Pieer Sibast

La manzana en la obscuridad (A maçã no escuro) (1974), tradução de Juan García Gayo

L’heure de l’étoile (A hora da estrela) (1989), tradução de Marguerite Wünscher

Osher samuy (Felicidade clandestina) (2001), tradução de Mirian Tivon

The Foreign Legion (A legião estrangeira) (1986), tradução de Giovanni Pontiero

The Stream of Life (Água viva) (1989), tradução de Elizabeth Lowe e outros

Dove siete stati di notte (Onde estivestes de noite) (1994), tradução de Adelina Aletti

Zivá voda (Água viva) (2000), tradução de Pavla Lidmilová

Sobre a autora:

BORELLI, Olga. Clarice Lispector: Esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
BOSI, Alfredo. Clarice Lispector. In: História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989.
CASTELLO, José. Clarice Lispector. In: O Inventário das Sombras. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.
FITZ, Earl Eugene. Sexuality and Being in the Poststructuralist Universe of Clarice Lispector – The Difference off Desire. Texas: University of Texas Press, 2001.
FREIXAS, Laura. Clarice Lispector. Coleção Vidas literárias. Barcelona: Omega, 2001.
GOTLIB, Nádia B. Clarice – uma vida que se conta. São Paulo: Ática, 1995.
GUIDIN, Márcia Lígia. A hora da estrela de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1996. (Roteiro de Leitura).
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1985. (Série Princípios).
NOLASCO, Edgar Cézar. Clarice Lispector: nas entrelinhas da escritura. São Paulo: Annablume, 2001.
NOVELLO, Nicolino. O ato criador de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Presença/MinC/Pró-Memória/INL, 1987.
PÉCAUT, Daniel. Os intelectuais e a política no Brasil. São Paulo: Ática, 1990.
ROSENBAUM, Yudith. Metamorfoses do mal: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Edusp, 1999.
VARIN, Claire. Línguas de fogo – Ensaio sobre Clarice Lispector. Tradução de Lúcia Peixoto Cherem, São Paulo: Limiar, 2002.
WALDMAN, Berta. Clarice Lispector – A paixão segundo C. L. São Paulo: Escuta, 1992.

Filmografia:

A hora da estrela (Brasil, 1985, 96min).

xDireção: Suzana Amaral.
Elenco: Marcélia Cartaxo, José Dumont e Tamara Taxman.
O corpo (Brasil, 1991, 80 min).

Direção: José Antônio Garcia
Elenco: Antônio Fagundes, Marieta Severo, Cláudia Jimenez, Carla Camurati, Sérgio Mamberti e outros.
Chamada final (Brasil/Alemanha/China e EUA, 1994)

Direção: Ana Maria Magalhães
Elenco: Claudia Ohana, Guilherme Leme e outros.
Ruído de passos (Brasil, 1995 – curta-metragem)

Direção: Denise Tavares Gonçalves.
Clandestina felicidade (Brasil, 1998 – curta metragem que trata da infância da autora)

Direção: Beto Normal e Marcelo Gomes
Elenco: Luisa Phebo.
Macabéia (Brasil, 2000 -curta-metragem)

Direção de Erly VieiraJr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge.
Aeroporto em o embarque (Brasil, 2002 – curta-metragem)

direção: Nicole Algranti
Elenco: Marcélia Cartaxo.
O ovo (Brasil, 2003 – curta-metragem)

Direção: Nicole Algranti
Roteiro: Luiz Carlos Lacerda.

Televisão:

Feliz Aniversário, Rede Globo, 1978

Especial Clarice Lispector – TV Cultura, 1999

A hora da estrela, Rede Globo, 2003

Teatro:

Perto do coração selvagem (1965)

Direção: Fauzi Arap
Elenco: Glauce Rocha, José Wilker e outros
Um sopro de vida (1979)

Direção: José Possi Neto
Elelnco: Marilena Ansaldi.
A hora da estrela (1984)

Direção: Naum Alves de Souza
Elenco: Maria Bethânia.
A paixão segundo G. H. (1989)

Direção: Cibele Forjaz
Elenco: Marilena Ansaldi.
A pecadora queimada e os anjos harmoniosos (1992)

Direção: José Antônio Garcia
Elenco: Sérgio Mambertti e outros.
A mulher que matou os peixes (1994)

Direção: Lúcia Coelho
Elenco: Zezé Polessa.
A mulher que matou os peixes (1998)

Adaptação de Adriane Azenha.
A hora da estrela (1998)

Direção: Roberto Vignatti
Elenco: Alexandra Tavares.
Que mistérios tem Clarice? (1998)

Direção: Luiz Arthur Nunes
Elenco: Rita Elmôr (monólogo)
Clarice – Coração selvagem (1998)

Direção: Maria Lucya de Lima
Elenco: Aracy Balabanian.
Quase de verdade (2001)

Direção: Ulisses Cohn
Elenco: Cia. Delas de Teatro
A hora da estrela (2001)

Direção: Marcus Vinicius Faustini
Elenco: Marcélia Cartaxo e outros.
A descoberta do mundo (2001)

Direção: Marco Antonio Rodrigues
Elenco: Cia. Delas de Teatro
A hora da estrela (2002)

Direção: Naum Alves de Souza
Elenco: Célia Borbes, Ester Lacava e Edgar Jordão.
A paixão segundo G. H. (2002)

Adaptação:Fauzi Arap.
Direção de Enrique Diaz
Elenco: Mariana Lima.
Amor – Uma ode ao universo feminino de Clarice Lispector (2002)

Adaptação: Marta Baião e Conceição Acioli.
Direção de Conceição Acioli.
Elenco: Marta Baião.
Água viva (2003)

Direção: Maria Pia Scognamiglio
Elenco: Susana Vieira.
Encontro com Clarice (2003)

Direção: Ítalo Rossi
Elenco: Ester Jablonski

Leituras (áudio):

Clarice Lispector – Áudio (1998)

Seleção de contos feita por Paulinho Lima. Interpretação de Aracy Balabanian; Luz da Cidade, coleção Poesia Falada.
Doze lendas brasileiras – Clarice Lispector (V. 1) (2000)

Idealização e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.
Clarice Lispector – A mulher que matou os peixes (V. 4) (2000)

Idealização e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.
A descoberta do mundo (2002)

Seleção de crônicas feita por Teresa Montero, interpretação de Aracy Balabanian; Luz da Cidade, Coleção Os cronistas.
La passion selon G. H. (sd)

Gravação de trechos do romance A paixão segundo G. H. pela atriz Anouk Aimée; Des Femmes, Paris.
Liens de famille (sd)

Gravação de contos do livro Laços de família por Chiara Mastroianni; Des Femmes, Paris.

Vídeos de entrevista no ano de sua morte:

http://www.buscatube.com/ventana-video.aspx?Codigo=atD1H5aFBhA&Titulo=TextodeClariceLispectorporDavidDuarte

http://www.buscatube.com/ventana-video.aspx?Codigo=zjQ5PSEOd1U&Titulo=EntrevistacomClariceLispector-TVCultura-1977Parte2

http://www.buscatube.com/ventana-video.aspx?Codigo=2Orgxd9bD_c&Titulo=EntrevistacomClariceLispector-TVCultura-1977-Parte3

Descubra mais sobre Clarice neste link de buscas de vídeos:

VÍDEOS CLARICE LISPECTOR

Viva Clarice!

HOJE É DIA DE FLORBELA ESPANCA!

Photobucket

Vida e Obra de Florbela Espanca

Introdução

“A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.
Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo caráter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, fato reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões.”
“Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-juanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.”

Cronologia

1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa.
1915: Casa com Alberto Moutinho.
1919: Entra na Faculdade de Direito, em Lisboa.
1919: Primeira obra, Livro de Mágoas.
1923: Publica o Livro de Soror Saudade.
1927: A 6 de Junho, morre Apeles, irmão da escritora, causando-lhe desgosto profundo.
1930: Em Matosinhos, Florbela põe fim à vida.
1931: Edição de Charneca em Flor, Reliquiae e Juvenilia e ainda das coletâneas de contos Dominó Negro e Máscara do Destino. Reedições dos dois primeiros livros editados. Verdadeiro começo da sua visibilidade generalizada.

Florbela, vida

Vila Viçosa, final do ano de 1894, noite de sete para oito de Dezembro.
Antônia da Conceição Lobo sente as dores do parto. Nasce uma menina. Não vem ao encontro das alegrias da família. Não parece ter sido desejada por qualquer das partes. É batizada como filha de pai incógnito. Avôs e avós também incógnitos. É-lhe posto o nome de Flor Bela de Alma da Conceição. Na literatura portuguesa será chamada Florbela Espanca. Apelido que receberá do pai, João Maria Espanca, já então levantado o véu encobridor. Curiosamente, o padre que a batiza e a madrinha usam o mesmo apelido.
A mãe morre algum tempo depois.
Tem infância sem falta de carinhos. O pai não a deixará desprovida de amparo. Ela própria assim o diz quando aos dez anos, em poema de parabéns de aniversário ao “querido papá da sua alma” escreve que a “mamã” cuida dela e do mano “mas se tu morreres/ somos três desgraçados”.
Será acarinhada pelas duas madrastas.
Ingressa no liceu de Évora. Num tempo em que poucas raparigas frequentam estudos, e bonita como é, apesar de umas tantas vezes afirmar o contrário, põe à roda a cabeça dos colegas.
Não são aqueles os primeiros versos. Antes já os escrevera com erros de ortografia. Naturalmente infantis, mas avançados em relação à idade. De algum modo, prenunciam o que virá depois.
Esta precocidade contrasta com um quê de desajustamento futuro, quando a sua escrita divergirá dos conceitos de poesia dos grupos do Orfeu, Presença e outras tendências do designado “Modernismo”, e que emergem como as grandes referências literárias da época. Das quais Florbela parecerá arredada.
Explicadora, trabalhará ensinando francês, inglês e outras matérias. Mais tarde, com vinte e dois anos, irá cursar Direito na Universidade de Lisboa.
Publica vários poemas em jornais e revistas não propriamente dedicados à poesia, como seja Noticias de Évora e O Século ou de circulação local.
Edita os seus primeiros livros, onde incluirá grande parte da produção anterior.
Refere o seu Alentejo e os locais ligados às suas origens, e exalta a Pátria em alguns poemas. Mas a sua escrita situar-se-á, sobretudo no campo da paixão humana.
Contrai matrimônio por três vezes. Do primeiro marido, Alberto Moutinho, usa o apelido em alguns escritos, nomeadamente correspondência. Do terceiro marido, Mário Lage, juntará o apelido à assinatura usual, nas traduções que efetuará. Do segundo, António Guimarães, não parece haver reminiscências explicitas nos escritos de Florbela, que lhe terá dedicado obra que publica como Livro de Sóror Saudade,  titulo diferente do projetado e esquecendo a dedicatória.
Morre aos 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidão de óbito como nefrose.

As faces duma personalidade

Como dizem vários estudiosos da sua pessoa e obra, Florbela surge desligada de preocupações de conteúdo humanista ou social. Inserida no seu mundo pequeno burguês. Não manifesta interesse pela política ou pelos problemas sociais. Diz-se conservadora.
No caso da poetisa tem a particularidade de ser ela própria a evidenciá-lo, permanentemente e sem constrangimentos. Parafraseando António José Saraiva e Oscar Lopes na História da Literatura Portuguesa: estimula e antecede o “movimento de emancipação literária da mulher” que romperá “a frustração não só feminina como masculinas, das nossas opressivas tradições patriarcais…”
Na sua escrita é notável, como dizem os mesmos mestres, “a intensidade de um transcendido erotismo feminino”. Tabu até então, e ainda para além do seu tempo, em dizeres e escreveres femininos.
O seu egocentrismo, que não retira beleza à sua poesia, é por demais evidente para não ser referenciado praticamente por todos.
Escritos de âmbito para além dos que caracterizam essa paixão não são abundantes, particularmente na obra poética. Salvo no que se refere ao seu Alentejo.
Não se coloca como observadora distante, mesmo quando tal parece, exterior a fatos, ideias, acontecimentos.
Curiosa é a posição da poetisa quanto ao casamento. Mal grado dizer que a única desculpa que se atribui é ter casado por amor, várias vezes se afirma inteiramente contra, apesar de ter contraído matrimônio por três vezes…
Entre os poetas seus preferidos destacam-se António Nobre, Augusto Gil, Guerra Junqueiro, José Duro e outros de correntes próximas. Interessa-se também por Antero.
Pela não publicação das suas obras, ora se mostra descontente por não encontrar editor para os livros que, após os dois primeiros, deseja dar a público, ora pretende mostrar-se desinteressada, mesmo desdenhosa pelo fato. Embora o desgosto seja saliente.
Passados perto de setenta anos sobre a sua morte são falados comportamentos menos ortodoxos em relação à moral sexual do seu tempo. Algumas expressões de emocionalidade um tanto excessiva para a época, embora não exclusivas da escritora, ajudam a suspeita.
Lembramos a sua correspondência e as referências ao irmão, Apeles. Os seus excessos verbais parecem não passarem disso mesmo – imoderação para exprimir uma paixão. Aqui, exaltação fora do comum de um amor fraternal, mas que não destoa do falar dos seus sentimentos.
Semelhante escrever na correspondência com uma amiga. Afinal nunca esteve junto dessa mesma amiga e apenas a viu em retrato.
Esses limites alargados na expressão do amor, da amizade e das afeições, são uma constante.
Florbela, poetisa, não pode ser separada da sua condição de mulher, das suas paixões, da sua maneira de ser, da sua vida, das suas contradições, humildade e orgulho, preconceitos, sua presença e ausência, seus amores e desamores.

A sua única preocupação é ela própria, o amor, a paixão… O querer e o não querer. A par duma vida pouco comum para os cânones vigentes – dois divórcios e três casamentos em cerca de quinze anos – essa relação mulher-paixão e a exaltação ao exprimir-se sobre si própria, podem ter contribuído para os conceitos aludidos.

Repare-se neste começo de um dos seus mais conhecidos sonetos:

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… Além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Florbela, escrita e culto

O seu culto começa nela própria.
Leia-se o poema, cantado por conhecido grupo musical e um dos mais belos:

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e Alem Dor!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
É condensar o mundo num só grito!

E quantas e, quantas vezes, Florbela nos recorda que é poeta! E com que euforia:

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Poucos poetas o farão tão repetidamente…

De modo algum pomos de lado a beleza do que escreve da maneira como se exprime, e do que ocupa a sua escrita.
Sem excluir a qualidade literária, não serão, porém inteiramente estranhos ao multiplicar da sua leitura, aspectos que de certo modo lhe serão alheios. Entre outros, o auto-retrato da sua vida que desenha um tanto distante do ordenamento e preconceitos sociais da sua época, as variadas contradições, ou aparência de contradições a tragédia da sua morte, o seu empenhamento na publicação, esforçado e continuado, os locais onde vive propensos à glorificação dos naturais ou próximos, o seu proto-feminismo diferenciado do que se lhe seguirá uns anos mais tarde, mas capaz de chamar a atenção.

Conceitos de amor

Mas Florbela lembra claramente que o que a preocupa é o Amor, e os ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: a solidão, a tristeza, a saudade, a sedução, a evocação da morte, entre outros… E o desejo. Mesmo quando trata outros temas.
O grande paradoxo. O amor, como muitas vezes se lhe refere, sugere um sentir onde o erotismo é componente permanente. Exaltado em vários escritos, noutros pretende ser limpo do que na época se consideram impurezas.
Após os vários casamentos, diz desejar morrer virginalmente.
Tudo produto duma moral que interditava a mulher exprimir o seu prazer sexual. As sugestões mais ousadas sobre sexo eram tidas como degradação ou, complacentemente, como provocação.

A Prosa

A prosa de Florbela exprime-se através do conto e de um diário que antecede a sua morte e em cartas várias, de natureza familiar umas, outras tratando de questões relacionadas com a sua produção literária, quer num sentido interrogativo quanto à sua qualidade, quer quanto a aspectos mais práticos, como a sua publicação. Nas diferentes manifestações epistolares sobressaem qualidades que nem sempre estão presentes na restante produção em prosa – naturalidade e simplicidade.
Ao longo dos contos encontram-se frases de grande beleza e força. As expressões de desejo, carregadas de erotismo, de algum modo, exprimem as suas contradições na transição para a libertação da mulher. Não podemos, porém deixar de considerá-los por vezes carecendo de certa densidade. Um excessivo uso de palavras e imagens, que pouco ou nada acrescentam ao que pretende sugerir, contribui para uma menos conseguida análise profunda dos sentimentos e paixões. Quase permanente é a qualificação das mulheres em puras e impuras, em excelentes e megeras.

O fim

No último ano de vida elabora um Diário, onde deixará anotações até escassos dias antes do trágico fim. Prefácio a esse fim.
Logo no início explica não ter qualquer objetivo ao escrevê-lo.
Define-se “honesta sem preconceitos, amorosa sem luxúria, casta sem formalidades, reta sem princípios, e sempre viva”, o que encaminha para algumas das questões que se põem..
Depois de recordar os nomes de companheiros e mostrar uma vez mais o amor pelo irmão, Apeles, aviador, cujo desaparecimento em desastre do seu avião a faz sentir mais só. Diz não compreender o medo que a morte causa à jovem autora de um Diário de que reproduz algumas frases.
À medida que caminha para o final as anotações são cada vez mais raras e curtas.
Afirma que as cartas de amor que escreveu resultavam apenas da sua necessidade de fazer frases. E em oposição frontal com o dito, páginas atrás escreve “se os outros não me conhecem, eu conheço-me”.
A morte anunciada ao longo da sua escrita ocorrerá pouco depois. Põe fim à vida em 8 de Dezembro de 1930, dia em que faz trinta e seis anos, em Matosinhos, onde vive. Aí é enterrada sendo mais tarde trasladada para a sua terra natal.
Florbela morre, não talvez a maior poetisa do seu tempo, mas uma das que mais agudamente e sem temor exprimiu as grandes contradições da sensibilidade feminina nas suas paixões. Ao mesmo tempo, com certa ingenuidade, impregnada das verdades simples ou complexas do que é a mulher, na convergência da cultura e do ser.

Mas ouso concluir que Florbela vive! Eternamente entre nós!

Viva Florbela!

AUSÊNCIA © Sophia de Mello Breyner Andresen

Photobucket

NO TEU TEAR… © Véu de Maya

Photobucket